terça-feira, 27 de julho de 2010

Contra quem se luta

É incrível, mas eu estou bem. Pela primeira vez eu te vi e não senti vontade de chorar. Isso é marco. Quase uma vitória contra mim mesma. Ganhei a primeira batalha. Espero um dia ganhar essa guerra. Lutar contra parte de mim que acredita no “nosso quase-fim” não é nada fácil. E como! Você não sabe como essa parte é forte. Ou talvez até saiba, foi você quem a alimentou no início. Alimentou, em poucas semanas, mais do que eu que a alimentei durante um mês. Por isso está tão forte. Por isso é tão difícil tirá-la de onde está. Ela se segura com tanta força e quando tento puxá-la dói muito mais do que quando ela descobre que está errada. Ela me arranha quando a contrariam, muito. Mas logo ela esquece, tola! Ela acredita mais em você do que em mim. Isso não deveria acontecer, ela está dentro de mim e deveria me obedecer. Por que não me obedece? O que você fez? O que você disse a ela? Diga-me! Agora! Ela está me machucando, você não compreende? Preciso ganhar essa guerra contra ela e reparar o estrago o mais rápido possível. Diga-me!

(Pausa. Respiração forte e ofegante. De repente, um sorriso sem graça.)

Oh, me desculpe. Sei que não tens culpa. Sei que não fizesses por mal. Eu a conheço bem, sei como ela é. É que às vezes eu me descontrolo. Como eu já disse, ela me machuca e não me obedece. Por isso fico assim. E sei que você também não quer mais ela por aqui. Nós sabemos, será melhor para os dois. Mas peço que tenha paciência. A parte de mim que luta contra ela ainda não está tão forte. Afinal foi uma queda grande. E eu não me joguei pela metade. Não sou do tipo que faz isso. Estou lutando diariamente contra ela. Não tinha vencido nenhuma batalha até hoje. Acho que minha parte que sabe viver sem você aprendeu a se alimentar de outro modo e está ficando mais forte. Fico feliz com isso, de verdade. E acredito que “a outra” esteja cansando, ela dorme, dorme muito. Exatamente como eu fazia quando ela me controlava. Dizem que ela tem depressão, eu não acredito que chegue a tanto. Mas sei que o motivo de eu tê-la vencido essa noite foi exatamente esse. Ela está cansada. Cansada de acreditar em você ou no que sentimos. Ela está percebendo que não muda nada. Ainda bem! Não queria ser tão radical, queria convencê-la de que não adianta. Que há mais coisas com que se preocupar. Sei que se eu conseguir convencê-la vai ficar tudo bem e ela vai parar de me machucar. Mas sei também que ela sempre se lembrará de quem a alimentou e, logo, me fará pensar em você. Mas com isso eu consigo conviver, é só consequência afinal...